“No dia 11 de Fevereiro, dia de Nossa Senhora de Lurdes, Deus concedeu-me uma
grande alegria.
Vi um espetáculo maravilhoso que nunca tinha visto e muito desejava
ver: nevou durante toda a noite e Viseu amanheceu todo branquinho.
Era lindo olhar ao longe e ver tudo alvura. Até as árvores sem
folhas, pareciam agora lindos ramos de grinaldas. Tanto parecia
realidade, que até dava a tentação de os ir cortar e preparar
grandes jarras de flores para a capela.
Passei-me pelo quintal, sem me importar o frio e as frieiras. Só
pela satisfação de ver a terra tão bela vale a pena passar frio.
Queridos, pais, vou no entanto contar-vos o que o espetáculo da neve
produziu no meu espírito.
Acreditam que eu, olhando pela janela aquela maravilha, acabei
chorando em fio, lágrimas de muita tristeza?
Estava agradecendo ao Bom Deus por me ter dado aquela alegria e senti
como que Ele me dizia: «Sabes que Eu não posso ter a alegria
de olhar para o mundo e ver esta brancura nas almas? Há algumas, mas
são tão poucas em comparação do número daquelas que se afundam
na lama do pecado»!!!
Pela minha mente começaram a desfilar tantas coisas que afeiam
tantas almas e o ambiente quase geral da pobre Humanidade!
Como deve ofender a pupila divina tanta imundície!!!
Porque as almas não amará a verdadeira Beleza e não procurarão estar tão belas como hoje a natureza?
Porque não daremos a Deus a felicidade, de poder sorrir de encanto contemplando a Humanidade?
E tive vontade de ir pelo mundo inteiro lançando um grito: Moças, vinde comigo para o mosteiro, consolar um Deus aflito. Vinde partilhar comigo este anelo de que as almas se elevem, de que o mundo seja mais belo!
Meus pais, eu até gostaria de expressar a meus sentimentos com uma
bela poesia que depois espalharia a milhares. Mas sinto-me sem
capacidade para isso; seria mesmo estragar, com um jeito que os não
saberia explicar bem. Mas acho que nunca mais vou esquecer a alegria,
transformada em tristeza, desse dia. Essa espécie de gemido de Deus
que reacendeu em mim o desejo de O consolar.
Aliás, como penso ter-vos dito já alguma vez, foi esse o motivo
principal que me levou a entrar para o convento: Consolar o Senhor,
sacrificando-me pela conversão dos pecadores.
Deus grita-nos: Ajudem-me a salvar os meus filhos!
Uma irmã
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